Tradicionalmente no Dia Nacional do Samba, em 2 de dezembro, a Uesp – União das Escolas de Samba Paulistanas – anuncia o Cidadão e Cidadã Samba, dois baluartes do Carnaval de São Paulo, que integram a Corte Oficial do Carnava de São Paulo. Para este ano, os escolhidos foram Dirceu de Almeida e Magali dos Santos, sambistas que sabem a importância de difundir a festa mais popular do Brasil.
Quem veste a faixa de Cidadã do Samba 2019 é Magali dos Santos, que dedicou a carreira à Camisa Verde e Branco. Aos 70 anos, ela relata uma trajetória que começou ainda menina, mas que foi ganhando mais e mais responsabilidades diante da escola, desde chefe de ala até a chegar à presidência em 1990. A baluarte é viúva de Tobias (filho do fundador da escola, Inocêncio Tobias) e transmitiu para filhos, netos e bisnetos o amor pelo samba.
Dona Magali reconhece a importância da Uesp como pioneira em São Paulo na organização da maior festa popular do Brasil e deixa o recado: “Agradeço pelas iniciativas não só da Uesp, como outras entidades, por manterem as lições dos primeiros fundadores de escolas como Inocêncio Tobias, Pé Rachado, Seu Nenê, entre tantos outros apaixonados pelo samba. O caminho é difícil, mas tem que ´segurar o refrão´”. Orgulhosa, Magali comemora a oportunidade de ser Cidadã do Samba e poder se divertir enquanto desfila, sem deixar de lado a responsabilidade de representar os embaixadores de tantas agremiações.
O Cidadão Samba 2019 é Dirceu de Almeida, de 58 anos, que também começou sua história com o Carnaval ainda criança. Foi membro da ala dos Malandrinhos da Mocidade Alegre, passou pela bateria mirim, depois liderou a bateria, atuou na harmonia, até ser convidado para integrar a Unidos do Peruche, levando sua colaboração par a escola pela qual desfila até hoje. Em 2008, foi eleito Rei Momo, completando mais um capítulo na trajetória. Há 27 anos integra o bloco “Não empurra que é pior”, atualmente como presidente desse que é um dos mais antigos de São Paulo (completa 34 anos este mês). Ele relembra com nostalgia o tempo em que orientava a formação dos grupos que tanto alegram os foliões: “Os blocos trocavam experiências, emprestavam instrumentos e tudo era válido por um Carnaval mais bonito, sem muita disputa”.
Filho do carnavalesco José Antônio Filho, o Ventania, Dirceu reconhece o encanto de uma época sem tecnologia e burocracia, quando tudo era mais intenso e é isso o que pretende transmitir como Cidadão Samba. “Enfrentamos um período em que o Carnaval foi considerado baderna, muitos têm cicatrizes das ‘borrachadas’ da polícia, e isso precisa ser valorizado quando se fala de embaixadores do samba. Sou de um tempo em que a gente tirava dinheiro do bolso para fazer o desfile”, afirma o sambista. Ele defende ainda, que o posto como Cidadão Samba representa uma forma de manter a valorização dos baluartes, do respeito às opiniões nas definições das escolas, dada a experiência acumulada por esses que são a história viva do samba.
A participação da Velha Guarda da Uesp é organizada por Laura Iris Pereira da Silva, dona Laurinha, que fez parte da Nenê de Vila Matilde, coordenou o departamento de Casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Escola e recebeu em 2000, o título de Embaixadora do Samba Paulistano. Ela conta que se dedica muito para ter a representação dos baluartes, pessoas que conheceram as origens do Carnaval e que ainda têm muito o que contribuir, levando a mensagem da festa com honra e orgulho. Laurinha falou sobre a expectativa para o desfile desse ano: “A luta de cada grupo é muito grande, as escolas estão muito bonitas, se preparando para uma disputa muito árdua, mas os embaixadores estão sempre participando e incentivando, para garantir que a melhor leve a taça”.