“O dia nasceu cinzento, 20°C e uma garoa chata que insistente cair no bairro da Vila Esperança.
Certamente, são nossos baluartes que lá de Aruanda, na ionosfera da terra, deixam escorrer seus prantos nas ruas do bairro, que neste dia, exatamente, hoje, 13 de fevereiro de 2021, não receberá o início dos desfiles do Grupo de Acesso de Bairro 2 da UESP, ponto de partida da Matriz do Samba.
A notícia chegou no panteão sambista feito uma flecha que atingi seu alvo com uma precisão inexorável:
— Não haverá carnaval!
— Estão suspensos os desfiles na Vila Esperança!
Aqui de baixo, sentimos a mais profunda dor em cada gotícula de suas lágrimas que nos tocam e atingem o chão como querer insistir em ver brotar os passos dos sambistas e das sambistas na Rua Alvinópolis, mas desta vez não estarão lá a desfilar no templo que se faz passarela.
Certamente, Seu Nenê, o Cacique, está argumentando e tentando acalantar os metafísicos corações daqueles e daquelas que estão ao seu lado e que molharam esse sagrado chão com choro, suor e até mesmo o sangue da emoção como Inocêncio Mulata, o Mala, Madrinha Eunice, Pé Rachado, Dona Filomena, Xangô, Seu Juarez e tantos e tantas mais.
Mestre Lagrila não se conforma em saber que os apitos estão emudecidos e lança olhares a Nicolau, Toniquinho Batuqueiro e Feijoada, para que os mesmos emitissem silvos que chegassem em nossos ouvidos para que as batucadas entrem em formação.
Sabendo que na concentração não existe nenhuma movimentação de carros alegóricos, Tito Arantes custa em acreditar no mais triste dos enredos que a história está nos presenteando, porém, nas justificativas do desenvolvimento dos setores, não há de se encontrar o colorido das fantasias que cedeu espaço para uma monocromia da mais densa dor de tonalidade asfáltica que se perde na busca do horizonte.
Pois é, 100 anos de carnaval e a Vila Esperança está emudecida. Um silêncio constrangedor paira entre imortais, pessoas que jamais se calaram em defesa do samba, dessa vez, não tinham como argumentar, apenas concordar que a valorização do sambista está na preservação da vida.
Percebendo que algumas batalhas não são vencidas, Betinho, com sua áurea de malandro sambista, inicia seus magistrais passos na ponta do sapato e aponta para Geraldo Filme, que entende sua salvadora intensão, e na hora, começa a entoar sua obra que vem a calhar em um momento tão propício quanto o dia de sua criação em homenagem a Pato N’água:
— Silêncio, o Sambista está dormindo…🎵🎶
Seu samba rapidamente se espalha feito combustível de acalanto e Paulistinha assume seu lugar como puxador, assim, o cortejo carnavalesco o seguem até sumirem entre as alvas nuvens.
Entretanto, não poderiam partir sem antes deixarem mais um ensinamento aos seus discípulos que aqui se encontram nos sentimentos mais profundos que o lamento pode abater:
Sambista não diz adeus, ano que vem estaremos de volta Vila Esperança”.
Alexandre Magno – Nenê
Presidente da UESP
Confira os vídeos:
Rosi Campos declama poema de autoria de Alexandre Magno
Presidente Nenê visita os locais de desfile